quarta-feira, 23 de outubro de 2019

1979-2019: nos 40 anos de um projecto de folclore


No ano lectivo de 1978-79, a primeira surpresa foi o facto de este projecto de constituição de um grupo folclórico ter sido concebido em ambiente escolar por e para professores, em Braga. Já havia grupos com carácter corporativo e alguns tinham-se formado integrando vários estratos intelectuais, mesmo dentro de escolas. A iniciativa foi gerando o entusiasmo da classe docente dentro da cidade que o acolheu com muita simpatia, com grupos a favorecerem a sua constituição e organização, ainda que com alguma parcimónia de partilha de repertórios e saberes.

A segunda surpresa esteve na sua própria programação de trabalho, com objectivos de estudo aprofundado das práticas culturais até então consideradas dominantes no movimento folclórico: recolha de cantares, diversidade de modas e modos de trajar, tipificação paradigmática de unidades de comunicação, edição cultural, iniciativa cultural na cidade. As dinâmicas da cultura tradicional popular constituíram-se programas de trabalho desde os alvores do século XIX e mantêm-se até hoje. Consideramo-las importantes para a revitalização cultural da sociedade, não tanto pelas oportunidades de representação de modos de ser e de estar já caídos em desuso, mas sobretudo por representarem um capital simbólico de valores patrimoniais físicos e imateriais que no presente cumprem funções de identidade e mudança, revitalização literária e musical, estética, artística, artesanal, industrial.

Ao longo dos seus 40 anos de actividade, o Grupo, primeiro nomeado Folclórico de Professores de Braga, depois Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé», esteve sedeado na Escola Francisco Sanches, em cujas instalações, agora desactivadas como escola, ainda se mantém, em condições de habitabilidade e funcionamento muito críticas e frágeis. Ensaia nas novas instalações da Escola Francisco Sanches, na sala do aluno, mantendo uma boa colaboração com a comunidade escolar da mesma.
As participações artísticas em espaços escolares ou de natureza educativa, como colóquios, congressos, semanas culturais, festividades, e as participações em festas de solidariedade, para além da iniciativa cultural em projectos autónomos, como exposições, edição de discos, edição da revista Água Mole (4 números), publicações específicas, intervenções na festa de S. João, fogueira de Natal, festivais de folclore, cantos de Reis e Janeiras, são as evidências do seu trabalho e da sua evolução de composição de recursos humanos. A este propósito, 40 anos foram sendo caminhados com a presença de recursos humanos muito capacitados, generosamente empenhados e graciosamente colaborativos. O facto de neste grupo todo o investimento patrimonial em instrumentos e trajes ser de iniciativa pessoal favorece a coesão e aumenta a diversidade de composição figurativa.

A Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé» de Braga, herdeira de todo o historial do grupo folclórico de professores, continuará a fazer seus os propósitos da investigação das práticas culturais, a iniciativa cultural de recriação, a criatividade específica para projectos diferenciadores, a colaboração institucional com outras associações e com a cidade. Numa altura em que a diversidade de desempenhos artísticos constitui um desafio integrador de
pessoas e instituições, estes 40 anos passados constituem uma sedimentação de processos que enche de orgulho os seus actuais membros e os motiva a prosseguir, sempre na esperança de novas agregações de vontade e de colaboração.
A celebração dos 40 anos consiste na deposição, às 11:00 horas do dia 26 de Outubro, de uma escultura musical na campa de associados já falecidos, na celebração, às 19:30 horas do mesmo dia, de uma missa de acção de graças na Igreja de S. Vítor e na organização de um jantar para os sócios, familiares e entidades convidadas.

Ao longo destes 40 anos, é imperativo o nosso agradecimento a grupos propulsores, como o grupo Dr. Gonçalo Sampaio de Braga e o Grupo das Lavradeiras de Parada de Gatim, a organismos e instituições públicas como a Câmara Municipal de Braga, as Juntas de Freguesia de S. Vitor, de S. João do Souto e S. José de São Lázaro, de Maximinos, Sé e Cividade, a organismos de utilidade pública como o Inatel, à Associação de Festas de S. João, à Confraria do Sameiro, a poetas e compositores como Castro Gil, Silva Araújo, António da Costa Gomes, Joaquim Santos, Hugo Torres, a casas comerciais da cidade, a patrocinadores e doadores de materiais e objectos, a informadores, estudiosos, colaboradores e amigos. A todos quantos, até ao presente, integraram este grupo, ao longo dos seus 40 anos, o nosso reconhecimento e o nosso muito obrigado.

José Machado, director artístico da Associação Cultural e Festiva «Os Sinos da Sé»