sexta-feira, 15 de julho de 2022

Contributos para o «desfile etnográfico» das festas de S. João

 
Na Revista de Guimarães, Vol. II de 1885, pode ler-se na página 223 este apontamento, escrito por Alberto Sampaio a propósito de «Estudos d’Economia Rural do Minho:

«Quando se vêem caminhar para uma feira ou romaria os ranchos de mulheres minhotas, com fatos domingueiros, pujantes de vida, com grandes brincos e o peito coberto de cordões e adereços, todas faiscantes de oiro, vem-nos naturalmente à lembrança as flamengas endomingadas, como as descreve Sr. E. de Laveleye. (…) De todas as províncias portuguesas é talvez a única (o Minho) que se veste de cores garridas e variegadas, especialmente as mulheres: apenas na Maia predomina a cor preta nas saias: em todos os outros cantões as cores preferidas são o branco, o vermelho, o amarelo e o verde, misturadas nas diferentes peças do vestuário. As músicas verdadeiramente locais, como a chula e a cana-verde, são alegres, como uma nota viva e cheias de esperanças, que faz esquecer por um instante a imaginação das suas preocupações utilitárias».

















No nº 4 do seu ano I, saído na véspera do dia de S. João, portanto a 23 de Junho de 1892, mo jornal A Folha do Minho pode ler-se o artigo «Rabulices e Rabulóides. O S. João! O S. João!: «Eis a grande attraction que arrasta d’entre as aldeias tifadas de verdura os camponezes alegres, d’uma vivacidade emotiva, penetrante! Chegam em bandos, poeirentos, zurrando nos harmoniuns e violas desafinadas, guinchando uns descantes apropriados ao seu viver rude mas feliz. E as Marias, braços na cintura, modos agaiatados, fazendo ressaltar as formas opulentas, que lenços ramalhetados ocultam, dançam, doidejantes, uma dança typica, que, certamente, o Rei David lhes transmitiu!
Mas d’isto tudo o melhor,
De mais vivas sensações
É depois, no arraial,
O que chupam os lambões!
São felizes os Maneis,
São felizes as Marias,
Uma grande bambochata…
Tudo pandega… alegrias!
As iluminações mosqueam de luz o local pitoresco da Ponte; e o foguetorio, deixando rastos luminosos na escuridão do espaço, atroa o ar com o seu estampido dynamitico ou lança lá da altura umas lagrimas coloridas, afogueadas como a essas horas as faces rechonchudas das Marias!


















Folgae, folgae, raparigas!
Tendes o sangue a saltar!
A vida é breve… folgae…
Amae… deixae-vos amar!
Ah! Que esses vossos Maneis,
De faxa e de varapau,
São uns grandes felizões,
Que nos vão dando quinau!
E ficamos a apitar!...
Bem invejosos até…
É que as Marias nos dizem:
- «Não dou fôrma do seu pé».


No I Volume do Cancioneiro de Músicas Populares, compilado por César das Neves e Gualdino de Campos, publicado em 1895, vem uma quadra e um estribilho coral que faz sentido no lugar em que vamos começar o desfile deste ano de 2022, as Carvalheiras. Não quer isto dizer que a quadra se refira a este local, a referência é o caminho feito por entre carvalheiras.
Abaixae-vos, carvalheiras,
Com a rama para o chão,
Deixae passar as romeiras
Que vão para o S. João.
Orvalheiras, orvalheiras, orvalheiras,
E viva o rancho das moças solteiras.
Orvalhadas, orvalhadas, orvalhadas,
E viva o rancho das mulheres casadas.
Repenica, repenica, repenica,
Ai, São João meu amor cá fica.

São João, Braga 2022

A soleníssima procissão de São João com o cântico gravado na Sé e algumas fotos do Município


 

Santo António, Braga 2022

Em Braga na Praça Velha nas festas de Santo António organizadas pelos Bravos da Boa Luz

"Se o cantar dera dinheiro meio mundo era rico...