Apresentação
do CD “Na Procissão da Burrinha” da Associação Cultural e Festiva “Os Sinos da
Sé”
Junta de Freguesia de São Victor, 30 de março de 2021
É com enorme alegria e gratidão, que hoje participo na apresentação do CD “Na Procissão da Burrinha” da Associação Cultural e Festiva “Os Sinos da Sé”, cujo trabalho de contínua recriação e atualização da nossa Cultura Popular detêm especial mérito e merecem uma elevada lauda de todos os bracarenses.
Dirijo, pois, uma palavra de
especial apreço ao Professor José Hermínio da Costa Machado, um inquieto da
Cultura Popular, que é o autor e mentor deste e de outros trabalhos que os
“Sinos da Sé” têm desenvolvido. Saúdo igualmente as instituições que tornaram
possível esta realização, nomeadamente a Junta de Freguesia de São Victor e a
Câmara Municipal de Braga. A Cultura precisa de sinais e de vida e este é um
sinal inequívoco de vitalidade!
Deixo ainda uma palavra de reconhecimento a Costa Gomes, que secundou o Professor José Machado na criação dos temas, e ao talentoso Daniel Pereira Cristo, que mais uma vez prestou a sua colaboração nos arranjos musicais.
Em primeiro lugar, é imperativo
sublinhar a especial missão levada a efeito pela Associação Cultural e Festiva
“Os Sinos da Sé” que podemos situar no âmbito da reinvenção da Cultura. A Cultura
Popular não se pode limitar simplesmente a uma tentativa de recriação do Passado.
Continuamos hoje a criar, à luz do contexto histórico em que nos situamos, mas
também podemos recriar a partir dos vestígios que o Passado nos oferecer, sem
deturpar ou fragilizar, mas atualizando e criando um vínculo entre o que
recebemos e o que estamos a viver. Como agremiação etnográfica, esta associação
assumiu essa missão e tem-na desempenhado exemplarmente.
O trabalho de recriação, dos sons
e signos, da nossa Cultura Popular que vem sendo sucessivamente desenvolvido
pela Associação Cultural e Festiva “Os Sinos da Sé” tem tudo a ver com a
Procissão da Burrinha. Também a Procissão da Burrinha, reinventada duas vezes
para chegar até nós no Presente, é uma manifestação viva que perpassa a própria
prática e que soube aproveitar o seu mais relevante vestígio para se reinventar
continuamente.
Este trabalho discográfico,
totalizando 14 temas, reúne uma dezena de músicas que registam a participação
dos “Sinos da Sé” na Procissão da Burrinha, cujas temáticas versam sobre a
história da Salvação, ideário do cortejo, ou sobre a Fugida para o Egipto,
memorada no seu quadro mais célebre, não deixando, todavia, de passar pela origem
ancestral da procissão: as Dores de Maria. Como é emocionante escutar o cântico
recolhido na freguesia de Bravães, em Ponte da Barca: “Senhora das Dores, Vós
por quem chorais? Pelo Vosso Filho, Bendita sejais!”
Ao escutarmos este trabalho, não caminhamos, porém, apenas nas ruas de Braga na noite de Quarta-Feira Santa, mas viajamos por muitos lugares de Portugal. Campo de Jales, Chacim, Celorico de Basto ou Bravães são etapas do percurso. Há até uma cantiga galega recolhida na romaria da Senhora da Peneda, um dos mais genuínos festejos minhotos.
Sinal inequívoco da inserção da
Associação Cultural e Festiva “Os Sinos da Sé” na comunidade, num exemplar
“viver com e para os seus”, registe-se também a participação do Monsenhor Silva
Araújo e do Dr. Carlos Aguiar Gomes neste trabalho, dois ilustres fregueses de
São Victor, que, ora compondo, ora recolhendo uma cantiga da tradição minhota,
também deixaram a sua marca vincada.
Este trabalho não é meramente uma
reunião de cantigas vinculadas exclusivamente à Procissão da Burrinha, mas
propõe uma revisitação ao cancioneiro popular ligado à Quaresma e aos temas da
devoção mariana, registados também no histórico de participação dos “Sinos da
Sé” nesta singular procissão bracarense. Não se cingindo apenas ao Ciclo da Páscoa,
percorre outros três momentos festivos muito relevantes para os bracarenses.
Nos quatro temas finais, todos elaborados no decorrer do último ano, podemos
adentrar no ciclo do Natal, com dois cânticos, um recuperando um vilancico natalício
de Gil Vicente acompanhado de um cantar de Reis especialmente devotado aos
fregueses de São Victor, mas também conta com duas criações integradas na
tradição bracarense, ora assinalando a subida ao Sameiro, ora festejando o São
João, ambos em tempos de pandemia.
Trata-se de mais um trabalho de
enorme mérito da Associação Cultural e Festiva “Os Sinos da Sé”, ainda mais
significativo por ser registo inédito associado a uma manifestação, de
recriação recente e vigorosa vitalidade, e também por sublinhar, nos temas finais,
o momento histórico que ainda nos abala.
30
de março de 2021
Rui
Ferreira
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